Representantes e assistidos do movimento apaeano participaram nesta terça-feira (22) da sessão solene realizada pela Câmara dos Deputados em homenagem à Semana Nacional da Pessoa com Deficiência Intelectual e Múltipla, que em 2023 completa seis décadas de lutas e vitórias em benefício das pessoas com deficiência e suas famílias. A campanha é promovida pela Federação Nacional das Apaes (Fenapaes) desde 1963, entre 21 e 28 de agosto, e, neste ano, tem como tema “Conectar e somar para construir inclusão”.

O evento foi prestigiado por membros da diretoria executiva da Fenapaes, entre eles o vice-presidente Nilson Ferreira, as diretoras-secretárias Rosane Jahnke (1ª) e Fátima Godoy (2ª), e o diretor Social, William Ferreira, além dos autodefensores nacionais, Francisco Matos Além e Tâmara Soares, do coordenador da Família da Apae Brasil, Rodolpho Bernardina, e dos assistidos da Apae do Distrito Federal. A solenidade também contou com a presença da equipe técnica da entidade, do prefeito de Campina do Monte Alegre (SP), Tiago do Zé Dito, e de vários deputados federais, a exemplo de Rosangela Moro (União-SP), uma das autoras do requerimento para a realização da sessão.

Em seu discurso, Nilson Ferreira destacou a necessidade da implementação de legislações, tais como a Lei Brasileira de Inclusão (LBI), que contou com a atuação efetiva da Apae Brasil em seu processo de elaboração. Segundo o vice-presidente, desde que a LBI entrou em vigor, em 2015, não houveram tantas transformações na vida das pessoas com deficiência e suas famílias. Na ocasião, Nilson reforçou aos parlamentares a relevância da execução dessas leis, em especial da LBI, e das políticas públicas.

“Nós, da Federação Nacional das Apaes, temos a preocupação de ver essa LBI ser implementada de fato. Porque lá tem todos os direitos e as garantias das pessoas com deficiência. Mas a gente tem ainda muita dificuldade de ver ações propositivas. Para isso, precisamos da atuação dos vereadores, dos prefeitos, dos governadores, dos deputados estaduais e federais, dos senadores e do presidente da República. Ou seja, deve haver um conjunto de forças para que a LBI seja realmente efetivada e traga os benefícios para as pessoas com deficiência. Eu fico muito preocupado ainda que, de 2023 para 2024, estamos muito aquém daquilo que era esperado em termos de implementação das ações da LBI”, salientou.

Nilson Ferreira aproveitou ainda para sugerir aos representantes do poder público que reúnam todos os recursos das políticas públicas em um fundo específico, para que cheguem às entidades de forma permanente e, assim, contemplem essas políticas.

“Precisamos fazer essa política de atenção integral e integrada para que realmente as pessoas com deficiência intelectual e múltipla possam prosseguir em seu desenvolvimento”, disse. “Nós estamos na Semana Nacional, um período em que temos a oportunidade de estar em espaços como esse aqui [tribuna da Câmara], entre outros no Brasil, para lutar pela defesa e garantia de direitos das pessoas com deficiência”, acrescentou.

Visibilidade

Ao destacarem a importância da campanha, os autodefensores apontaram a necessidade de a sociedade brasileira “desinvisibilizar” as pessoas com deficiência.

“Nas campanhas passadas, a gente já mobilizava o país nessa intenção de mostrar que a inclusão ainda se faz necessária, mas entendemos também que, depois do período pandêmico, a inclusão se faz pela internet. E a pessoa com deficiência precisa estar nesse ambiente. Espero que todos possam se engajar conosco nesta campanha, que fortalece não somente o movimento apaeano, mas também todas as instituições que representam e lutam pelas pessoas com deficiência. Expresso o meu profundo respeito e apoio à luta que é nossa, que precisa de visibilidade dos poderes e da sociedade civil organizada”, afirmou Tâmara Soares.

Francisco Matos Além corroborou com as palavras da amiga autodefensora e frisou que, apesar de ser uma semana, a campanha é o ano inteiro. “A Semana Nacional é uma oportunidade para gritarmos por nossa luta. Estamos cansados de ficar à margem da sociedade. Então, senhores deputados, senhoras deputadas e todos aqui presentes, só peço uma coisa: olhem mais pelas pessoas com deficiência”, apelou.

União

Primeira pessoa com paralisia cerebral a ocupar o cargo de prefeito no Brasil, Tiago do Zé Dito fez um pronunciamento que emocionou a todos, ressaltando a importância do papel da inclusão na vida das pessoas com deficiência e suas famílias. Como exemplo, o gestor de Campina do Monte Alegre citou o trabalho transformador feito pelas Apaes. Tiago passou a ser assistido pela Rede Apae a partir dos três anos – primeiro em Angatuba e depois em Itararé, municípios localizados no Estado de São Paulo.

“Se não fosse pela Apae, talvez eu não estaria aqui hoje. Talvez eu não tivesse sido alfabetizado, evoluído. Eu fui começar a andar com dez anos de idade, comecei a comer com as minhas mãos com mais de 20 anos. Tudo isso graças aos profissionais dessa instituição. Há 30 anos eu estava em uma sala da Apae e convivi boa parte da minha vida nela, com pessoas com deficiência física, auditiva, intelectual, múltipla. E digo para vocês: eu ainda me sinto muito mais à vontade nesse ambiente do que na política. Isso é sinal de que a inclusão precisa continuar a avançar. A nossa briga é contra certas situações, e não com pessoas. E juntos podemos. É hora de união, é hora de compreensão”, ressaltou.

Reconhecimento

Já a deputada Rosangela Moro manifestou o seu reconhecimento e a sua gratidão pelas ações desenvolvidas pelas Apaes na defesa e garantia de direitos das pessoas com deficiência, bem como na oferta dos serviços de qualidade e excelência nas mais diferentes áreas. “Que esta Semana Nacional seja um testemunho do poder da empatia, da força da união e do potencial transformador da educação”, complementou. 

Ao término da sessão, a parlamentar entregou ao vice-presidente e aos autodefensores da Apae Brasil uma outorga pelo “compromisso inabalável com a promoção da inclusão, igualdade e dignidade das pessoas com deficiência intelectual e múltipla”.