Peça teatral para pessoas com pouca ou nenhuma visão usou audiodescrição e experiências sensoriais com atores. Participante disse que sentiu 'como se enxergasse' cenário.
Como descrever uma careta, uma dublagem propositalmente dessincronizada ou um movimento de dança para pessoas com deficiência visual? Transformar o teatro em uma experiência completa para quem não enxerga requer mais que a simples audiodescrição das cenas e, mesmo no cinema, a narração literal pode ser um equívoco.
A especialista em tecnologia assistiva para deficientes visuais Clarissa Barros, que atua em Brasília há três anos, afirma que é preciso aproximar os espectadores do que ocorre no palco, de modo sensorial. Foi esse o desafio enfrentado por ela nesta terça-feira (14), ao guiar um grupo de pessoas com baixa ou nenhuma visão em um espetáculo teatral.
Cerca de 30 pessoas de 19 a 75 anos que estudam no Centro de Ensino Especial de Deficientes Visuais, na Asa Sul, participaram da iniciativa. Antes de entrar no teatro, no entanto, elas passaram por três etapas de preparação. As duas primeiras foram encontros dedicados à contextualização histórica do teatro e do que seria apresentado no palco.
Clarissa disse ao G1 que fez até a reconstrução física do teatro em formato de maquete para explicar o ambiente e como as cenas se desenvolvem. Antes do início da peça, foi preciso explicar ao público, por exemplo, as características físicas do circo e do cabaré que ambientam a história.
'Estamos falando de um público que o vocabulário de vidente não atinge. Como descrever um palhaço se toda a graça dele está na expressão facial?', questiona. 'A mera descrição da imagem não chega pra quem nasceu cego.'